quarta-feira, 28 de julho de 2010

Alvo

Daqui do vale avisto o céu
A cidade invadida
Daqui do céu desfaço o véu
Sondo as passadas

No revéz do ser a natureza de homem no anzol
[presa em si mesmo]
A imagem no espelho brilha ao sabor do sol
Que escurece logo que a noite é estrela
[brilha nos becos]
No espelho a imagem esvanesce como fumaça

Confuso como o vento em espiral
Soprando para longe folhas secas
Sementes, brotos novos nos braços
Do destino que leva longe as telhas
[molha a roupa no varal]

E seca as enchentes num calor escaldante
que dá sabor a qualquer praia, ilumina a cruz
Que faz das orquídeas uma filha que come luz
Destino que monta os quebra-cabeças
[num vai e vem incessante]

Destino são as ondas do mar que trazem as cartas
enrroladas em garrafas de náufragos, que mostram
o percursso pelas pegadas.Mostra a chegada pela passada
Mostra que o ninho não é o caminho, mas o céu é o alvo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Além

O muro que escora o tombo
A moral que esconde o ódio
O mel que sai do lábio rasgado
No mar de mil afogados

O polvo e seus abraços dobrados
O povo sugado pelos tentáculos
Do tempo, dos vendavais democráticos
No mar de mil afogados

O barco navega sem vela
No mar de mil afogados
O circo e seus palhaços
Com suas piadas banguelas

Pelas marés, mergulhado no luar da inconstância
Corre o destino que desagua no mar bravo da morte
Enxergarei através do muro implodido e minha alma voará
Além das regras hipotéticas engessadas de hipocrisia
Além da corrente que prende a mente, no calabouço
Além do osso, do orgão, do tecido.Além das curvas
Além muito além da carne, além dessas estradas
Além desse mar de mil afogados.Existe o reino.
No interior de cada um.Pântanos e castelos
Na arte dos reencontros.